Doenças negligenciadas



As doenças negligenciadas são um grupo de doenças tropicais endêmicas, especialmente entre as populações pobres da África, Ásia e América Latina. Juntas, causam entre 500 mil e 1 milhão de óbitos anualmente. As medidas preventivas e o tratamento para algumas dessas moléstias são conhecidos, mas não são disponíveis universalmente nas áreas mais pobres do mundo. Em alguns casos, o tratamento é relativamente barato. Em comparação às doenças negligenciadas, as três grandes enfermidades (Aids, tuberculose e malária), geralmente recebem mais recursos, inclusive para pesquisa.

Contudo, o prejuízo causado pelas doenças negligenciadas não pode ser calculado considerando apenas a mortalidade. Em geral, estas causam muito mais incapacidades do que mortalidade.

Como exemplos de doenças negligenciadas, podemos citar: dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose, oncocercose, malária, tuberculose, teníase/cisticercose, entre outras.

 

1)  Dengue: dengue é uma doença viral transmitida por mosquitos que nos últimos anos se espalhou rapidamente por todas as regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS). O vírus da dengue é transmitido por mosquitos fêmea, principalmente da espécie Aedes aegypti e, em menor proporção, da espécie Aedes albopictus. Esses mosquitos também transmitem chikungunya e zika. A dengue é generalizada ao longo dos trópicos, com variações locais de risco influenciadas pela precipitação, temperatura e rápida urbanização não planejada. Existem quatro distintos, porém intimamente relacionados, sorotipos do vírus que causa a dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). pode desencadear dois processos de infecção (dengue clássica e dengue hemorrágica, com sintomas que vão desde febre alta, dor de cabeça, dores na juntas, fraqueza, falta de apetite, mancha na pele, sangramentos, podendo provocar a morte. O controle da doença envolve a conscientização da população com relação ao acúmulo de água e a reprodução do mosquito.

 

2) Hidrofobia ou Raiva : saliva introduzida pela mordida de animais infectados (o cão, por exemplo). Infecção: o vírus penetra pelo ferimento e instala-se no sistema nervoso. Controle: vacinação de animais domésticos e aplicação de soro e vacina em pessoas mordidas. Sintomas e características: febre, mal-estar, delírios, convulsões, paralisia dos músculos respiratórios (é doença mortal).

 

3) Doença de Chagas :  O agente etiológico dessa moléstia é o protozoário flagelado Trypanosoma cruzi, descoberto em 1909 pelo cientista brasileiro Carlos Chagas. A doença de Chagas é uma das mais graves endemias brasileira. O Trypanosoma vive no intestino de um percevejo hematófago, conhecido popularmente como barbeiro ou chupança (Triatoma infestans), onde se reproduz, sendo, eliminado juntamente com as fezes do inseto.

Ao penetrar na pele, o Trypanosoma alcança a circulação sanguínea, se fixando do coração. A doença tem evolução lenta, caráter crônico, levando, às vezes muitos anos para ocasionar a morte do doente, por insuficiência cardíaca progressiva.

 

4) Leishmaniose:  O agente etiológico dessa moléstia é um protozoário flagelado do gênero Leishmania sp. A Leishmania é transmitida pelo mosquito flebótomo – palha ou birigui. Existem três manifestações clínicas diferentes da doença: cutânea, mucosa e visceral. A leishmaniose visceral é caracterizada por episódios irregulares de febre, emagrecimento, hepatoesplenomegalia e anemia, que se não tratada pode levar à morte em mais de 90% dos casos. A leishmaniose mucosa pode levar à destruição parcial ou completa das membranas mucosas do nariz e da boca e causar incapacidade grave, enquanto a leishmaniose cutânea é a forma mais frequente dessa infecção, causando principalmente lesões ulcerativas que deixam cicatrizes para toda a vida. 

 

5) ESQUISTOSSOMOSE ou XISTOSE (Barriga d'água)

 Agente etiológico: Schistosoma mansoni

 CONTÁGIO: Penetração da larva cercária através da pele.

CICLO: O esquistossoma tem o homem como hospedeiro definitivo e caramujos (Biomphalaria sp.) de água doce como hospedeiro intermediário. Quando as fezes humanas contaminadas com ovos atingem a água, um estágio larval, chamado miracídio, se desenvolve. O miracídio penetra no caramujo, onde ocorre a reprodução assexuada e a formação de esporocistos. Os esporocistos dão origem a outro tipo de larva, a cercária, que abandona o caramujo atingindo a água. O homem se contamina com a cercária ao andar descalço na beira de lagos ou áreas de solo úmido contaminado. As larvas perfuram a pele e penetram na corrente sanguínea, atingindo o intestino e o fígado, no interior dos quais se desenvolvem e se reproduzem sexuadamente, originando novos ovos e fechando o ciclo.

Sintomas: Na fase aguda pode ocorrer febre, dores de cabeça e abdominais, diarréia, vômitos, entre outros. Na fase crônica, diversos órgãos podem ser atingidos, tendo seu funcionamento prejudicado. O rompimento de células e tecidos provoca a liberação de fluídos na cavidade abdominal, provocando o inchaço dessa região, vindo daí o nome barriga d'água.

 PREVENÇÃO: Medidas de saneamento básico, medidas de higiene pessoal e controle da população de caramujos.


6) Teníase/ Cisticercose:

 Parasita -  Taenia solium  e Taenia signata

Sintomas - Náuseas, diarréia, letargia, etc.

Transmissão - ingestão de carne com cisticercos

OBS: O ciclo começa quando o porco engole os ovos, da boca esses ovos vão para o estômago onde se tornam larvas oncosféricas, então migram para o delgado e para a musculatura em forma de cisticercos. Comendo a carne contaminada, o verme vai para o delgado do homem, onde se torna adulto, por auto fecundação ou por fecundação cruzada, dão se origem aos proglotes grávidos, que serão futuramente ou ovos. A Cisticercose caracteriza-se quando o homem faz o papel de hospedeiro intermediário (do porco), devido a ingestão de alimentos contaminados por ovos.

7) Filariose:

Também chamada de elefantíase, é causada pelo nematoide Wuchereriabancrofti, que tem o ser humano como hospedeiro definitivo, e o mosquito do gênero Culex como hospedeiro intermediário - apresentando, portanto, ciclo de vida heteroxênico (com mais de um hospedeiro).

O ciclo de vida pode se iniciar com a formação de ovos do verme alojado no sistema linfático do hospedeiro definitivo. Esses ovos eclodem, e as larvas, chamadas microfilárias, migram para a circulação sanguínea. A partir deste momento, ao sugar o sangue do humano infectado para se alimentar, o mosquito do gênero Culex pode ingerir as microfilárias, e então, ao picar outro indivíduo, ele deposita o parasita, que migra para o sistema linfático desse novo hospedeiro, onde se inicia um novo ciclo.

A transmissão ocorre, portanto, através do mosquito hospedeiro intermediário. Os principais sintomas são febre, alergia e obstrução dos vasos linfáticos, quando o verme está adulto, e a formação de edema (inchaço) nas regiões endócrinas, por isso o nome popular de elefantíase.

A profilaxia envolve:

·         O combate ao vetor para impedir o contato deste com o hospedeiro definitivo;

·         Identificação dos doentes para impedir a transmissão através do contato com mosquitos.

O tratamento dessa verminose é mais complexo devido ao local em que o parasita se aloja, mas, como em qualquer outra verminose, utilizam-se vermífugos para a morte do parasita. Em alguns estágios mais avançados da doença, pode ser necessária a amputação das regiões inchadas.

 

8) Ancilostomose:

Doença conhecida popularmente como Amarelão, muito comum nas zonas rurais, causada pelo Nematelminto do gênero Ancylostoma, sendo o Ancylostomaduodenale a principal espécie parasita da doença.

O ciclo de vida do parasita causador da Ancilostomose envolve o ser humano como hospedeiro definitivo e não possui hospedeiro intermediário, apresentando, portanto, ciclo de vida monoxênico.

No interior do intestino, os vermes se reproduzem sexuadamente, gerando ovos que serão eliminados nas fezes do hospedeiro. No solo, esses ovos vão eclodir e se desenvolver em larvas chamadas filarioides, que conseguem penetrar o corpo humano através da pele, atingindo, assim, a corrente sanguínea, e seguindo para os pulmões e o coração. Nos pulmões, elas adentram as traqueias, para serem engolidas e irem para o intestino, onde podem se desenvolver na forma adulta e produzir ovos, que serão novamente liberados no meio ambiente.

A transmissão ocorre a partir da penetração da larva na pele do hospedeiro, ou através da ingestão da larva na forma de cisto. Os sintomas da ancilostomose podem ir desde inflamações locais (na região de penetração do verme na pele), até lesão pulmonar, cólicas, náuseas e anemia, que se caracteriza como principal sintoma.

Os parasitas da ancilostomose possuem dentículos na região da boca, que rasgam a parede intestinal para que o verme possa sugar o sangue do hospedeiro, causando a anemia. Essa condição acaba deixando o paciente com coloração amarelada, por isso a doença é popularmente conhecida pelo nome amarelão. A partir da anemia, a geofagia (vontade de comer terra) é outro sintoma que pode se desenvolver para suprir a carência nutricional de minerais do hospedeiro.

Assim como todas as verminoses, as medidas profiláticas da ancilostomose são:

·         Condições adequadas de saneamento básico;

·         Higiene pessoal para evitar o contato direto com ovos do endoparasita (usar sapato quando for andar na terra é a principal forma de higiene pessoal para evitar a infecção).

O tratamento envolve a utilização de antiparasitários (vermífugos) e a educação sanitária para conscientizar as pessoas dos hábitos higiênicos para evitar o contato com o verme.

 

9) Leptospirose: É uma doença causada pela bactéria Leptospira interrogans. É transmitida pela urina do rato, normalmente presente em águas contaminadas (por isso ocorrem muitos casos em épocas de chuva). A profilaxia é evitar água de chuva, água de esgoto e não ingerir alimentos sem antes lavá-los. 

 

10)  Lepra/ Hanseníase:

 A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae , também conhecida como bacilo de Hansen. A evolução da doença é muito lenta, com período médio de incubação e início dos sinais e sintomas de cinco anos. Os sintomas iniciais resultam em pele clara ou escura ou lesões nodulares com perda de sensibilidade. Quando os casos não são tratados logo no início da manifestação da doença, as complicações podem causar sequelas progressivas e permanentes, incluindo deformidades e mutilações, redução da mobilidade dos membros e até cegueira.

Afeta principalmente a pele, nervos periféricos, membranas mucosas do trato respiratório e olhos. Em alguns casos, o sintoma pode aparecer nos primeiros nove meses, embora possa levar até 20 anos para aparecer. A hanseníase não é altamente contagiosa e é transmitida pelo contato próximo e frequente com pessoas não tratadas. É curável e, se houver tratamento, reduz consideravelmente as chances de incapacidade. 

Hoje, o tratamento da hanseníase é gratuito - doado pela Novartis via OMS - e simples. A maioria dos países endêmicos está se esforçando para integrar os serviços de hanseníase aos serviços gerais de saúde existentes.

 

Para mais informações acesse:

https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-das-doencas-tropicais-negligenciadas-2022


Questões

1.    (Unesp-SP) Uma determinada moléstia que pode causar lesões nas mucosas, pele e cartilagens é transmitida por um artrópode e causada por um protozoário flagelado. Os nomes da doença, do artrópode transmissor e do agente causador são, respectivamente:

a) leishmaniose, mosquito anófeles e Leishmania brasiliensis.

b) úlcera de Bauru, mosquito cúlex e Plasmodium vivax.

c) doença do sono, mosca tsé-tsé e Trypanosoma cruzi.

d) doença de Chagas, barbeiro e Trypanosoma gambiensis.

e) úlcera de Bauru, mosquito flebótomo e Leishmania brasiliensis.

2.    (UFV/2010-MED) Recentemente foram divulgados resultados sobre estudos de uma vacina contra o Schistosoma mansoni. Apesar de estar no início, a pesquisa aponta para proteínas do parasito capazes de estimular a resposta imune no nosso organismo. Dos estágios de desenvolvimento desse parasito, assinale aquele que tem o menor impacto na obtenção dessa vacina:

a) Esquistossomo adulto.

b) Esquistossomo jovem.

c) Miracídio.

d) Cercária.

 

3.    (FUVEST) Os platelmintos parasitas Schistosoma mansoni (esquistossomo) e Taenia solium (tênia) apresentam

a) a espécie humana como hospedeiro intermediário.

b) um invertebrado como hospedeiro intermediário.

c) dois tipos de hospedeiro, um intermediário e um definitivo.

d) dois tipos de hospedeiro, ambos vertebrados.

e) um único tipo de hospedeiro, que pode ser um vertebrado ou um invertebrado.

 

 

4.    UFJF-MG Tenho um aquário de peixes ornamentais onde surgiram caramujos. Existe o risco de se contrair a esquistossomose através desses moluscos? Ciência Hoje/julho de 2000. A este leitor você responderia:

a) sim, pela presença dos caramujos, que são os hospedeiros definitivos do Schistosoma mansoni e os transmissores da esquistossomose para o homem.

b) não, porque a transmissão da esquistossomose para o homem se dá pela ingestão de alimentos e água contaminados, não envolvendo a presença de outros animais.

c) sim, porque em ambientes onde ocorrem peixes e caramujos se dá a infecção do homem pelos miracídios do Schistosoma mansoni.

d) não, porque é remota a possibilidade de contaminação da água do aquário com fezes humanas contendo ovos do Schistosoma mansoni.

 

5.    (FUVEST) Qual a característica comum aos organismos: plasmódio, tripanossomo e solitária?

 a) são hematófagos

b) são endoparasitas

c) são decompositores

d) vivem no intestino humano

e) são unicelulares

 

6.    (Vunesp) Existe uma frase popular usada em certas regiões relativa a lagos e açudes: “Se nadou e depois coçou, é porque pegou”. Essa frase se refere à infecção por:

a)      Plasmodium vivax;

b)      Trypanossoma cruzi;

c)       Schistosoma mansoni;

d)      Taenia solium;

e)      Ancylostoma duodenalis.

 


7.    Em meados de 1930, as doenças transmissíveis constituíam a principal causa de morte no Brasil. Apesar da mudança de cenário em virtude, sobretudo das melhorias sanitárias e medidas preventivas, essas doenças ainda preocupam as instâncias sociais e de saúde brasileiras. Um dos fatores relaciona-se às doenças vetoriais, que, para o combate, exigem atuações multidisciplinares e complexas. Sobre esse aspecto, NÃO se constitui em uma doença vetorial a

A) Cólera.

B) Dengue.

C) Doença de Chagas.

D) Esquistossomose.

E) Febre Amarela.

 

8.     (UFES) Para não se contrair doenças como cisticercose e teníase, deve-se evitar, respectivamente:

a) comer verduras mal-lavadas e comer carne bovina ou suína mal passada;
b) comer carne bovina ou suína mal passada e nadar em lagoas desconhecidas;
c) comer carne com cisticerco e comer carne bovina ou suína mal passada;
d) nadas em lagoas desconhecidas e andar descalço;
e) andar descalço e comer verduras mal lavadas.

 

9.      (Pucsp 2000) Na primeira década deste século, o médico brasileiro Carlos Chagas iniciou uma série de estudos que o levaram a descrever o ciclo de vida de um importante ...(I)... pertencente à ...(II)... 'Trypanosoma cruzi', agente etiológico do mal de Chagas e que tem como transmissor um ...(III)... pertencente ao ...(IV)... Triatoma, popularmente conhecido por "barbeiro".

No trecho acima, as lacunas I, II, III e IV devem ser substituídas correta e, respectivamente, por:

a) protozoário, família, inseto e filo.  

b) protozoário, espécie, inseto e gênero.  

c) bacilo, espécie, verme e gênero.  

d) bacilo, família, verme e filo.  

e) vírus, ordem, molusco e gênero.  

 

10.  (Mackenzie-SP) A elefantíase é uma verminose provocada por um nematódeo, e seu principal sintoma é o inchaço de pés e pernas. Esse inchaço é provocado:

a)      Pelo acúmulo de vermes nos vasos linfáticos, impedindo a reabsorção de linfa, que se acumula nos espaços intercelulares.

b)      Pelo entupimento de vasos sanguíneos, causado pela coagulação do sangue na tentativa de expulsar os vermes.

c)       Pelo aumento no número de vermes nas células musculares das regiões infectadas.

d)      Pelo acúmulo de vermes nos capilares sanguíneos, dificultando o retorno do sangue.

e)      Pela reação do sistema imunológico à presença dos vermes.

 

 

Gabarito

1.    E

2.    C

3.    C

4.    D

5.    B

6.    C

7.    A

8.    A

9.    B

10.  A

 

 

 

Virgínia Samôr

Bacharel, licenciada e pós graduada em Ciências Biológicas pela UFV e possui Mestrado Profissional em Ensino de Biologia pela UFJF.

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